Dizemos que não repetimos os erros, prometemos até não voltar a pecar, mas isso é apenas intenção e dessas estão as profundezas cheias. E por nossa culpa, tão grande culpa, vamos dando palmadinhas nas costas alheias e olhamos para o outro lado, que só um a fazer frente a um exército inteiro nem no tempo de David e Golias.
Augustineide Octaviliana Deixandar Ouquilhaste e Proteccionada Ferreirosa nasceu. E no dia em que veio ao mundo espetaram-lhe um nome tão pomposo que a criança mirrou. Ficou com uma cabeça pequenina, um corpo de gente e umas manápulas de gorila gigante. Por trás dos óculos arredondados dois olhitos espreitavam a presa e da boca pequenina também saíam um sons sibilantes coroados sempre pela desobediência e arrogância. A primeira herdou-a da mãe e a segunda do pai, ambos briosos do rebento e da linhagem.
Desenharam-lhe uma carta astral tão completa, com tantas conquistas do passado e benesses no futuro, que a petiz, quando contrariada, clamava em altos berros pelos progenitores e a água lacrimal e demais mucos conseguiam os intentos que a perrice e a má educação ditavam.
Tinham os seus ascendentes um jeito especial para ainda lhe acrescentarem diminutivos, daí que a Augustineidinha inchava cada vez que decidia fazer o que tinha decidido. Por isso apanhava as flores, dava pontapés nos mais pequenos, entrava e andava por todos os recantos do convento, e fungando ou vociferando na sua voz de cana rachada, saía airosamente de todas as situações. Bastava abrir a goela, atirar com o que tinha à mão e dizer que chamava o seu bem-aventurado pai e pronto, dava-se o milagre.
Tinha, por ali, uma outra alma gémea do mesmo sexo, com quem se dava duma forma entre o onde-andas-tu, o-espera-que-te-agarro ou levas-um-murro-que-te-parto-as-fuças.
Sobre esta figura carismática hei-de voltar a falar. Um encanto, cada uma no seu género.
O melhor ( entre as baralhações de horários, os pedido diários de chamar a mãezinha-a-minha-menina-é-a-maior por telefone, não-quero-fazer-nada e os tempos a azucrinar quem estava por perto) eram as horas e horas que a pequena-grande-coisa passava no convento. Ia e ia e ia, um sem número de vezes, até ao portão para ver se a vinham buscar. Voltava para trás, sentava-se num canto e então chamava nomes-carinhosos-escolhidos aos outros. Dali, até uma espera dos colegas, mais umas trancadas e gritos pungentes, era um ver se te avias.
Quando saí hoje ela ainda lá estava, entre voltas atrás do rabo e uns olhares por cima dos óculos. Amanhã vai voltar aos mesmos lugares, meter-se com as mesmas pessoas e fazer exactamente as mesmas coisas, porque os abençoados procriadores querem que a sua Augustineidinha seja doutora-normal-sábia.
E vai ser, com os nossos olhos fechados e a santa graça dos altíssimos.